quinta-feira, 10 de setembro de 2015

UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE O JOÃO PEDRO DE VÁRZEA

Por Rodolfo André


Da união da festa de São João e de São Pedro surgiu o João Pedro de Várzea, sempre comemorado no segundo final de semana do mês de julho. Assim, como em grande parte da história da humanidade, quando uma grande tradição se forma, através da vontade de um povo, não se sabe ao certo como ela começou, surgiu a tradicional festa do João Pedro em Várzea. Tenha se formado das comemorações de amigos, no costume de algumas famílias em comemorarem as festividades do meio do ano ou tenha sido apenas pelo desejo da população em ter sua própria festa, com características próprias e com um diferencial das demais festividades da região, o fato não importa , tanto quanto o valor cultural e sentimental que esta festa representa para o povo de Várzea e, que aqui vale salientar, como sendo a maior manifestação cultural do nosso município.

Em 1984, a festa passa a ser realizada na praça Joaquim Marinho, sendo organizada, a partir de então, pela prefeitura municipal, mas sem perder os elementos culturais e tradicionais presentes nas festividades familiares da época, com muito forró, ornamentações de madeira e palha (o palhoção), barracas com muitas comidas típicas e as tradicionais quadrilhas,  exemplo do Arraiá da Anisio Marinho, da União, da Melhor Idade e da quadrilha da Poeira que era realizada na segunda-feira da “ressaca” do João Pedro.
As festividades duravam três dias embaladas pelo som do carro da produção de Fernando Som, da cidade de Patos, que era contratado pela prefeitura para fazer a animação da festa. Mas, durante a semana que antecedia o João Pedro já eram realizados, assim como hoje, muitos arraiás e quadrilhas dançantes pelas ruas da cidade, reunindo as famílias em suas casas como acontecia antes da festa se concentrar em um determinado ponto. E não só antes, como também depois da festa ainda tinha a tradicional “recordação do João Pedro”, a chamada festa do Galdino, realizada no terceiro final de semana de julho na comunidade da Quixaba, e que trazia todos os mesmos elementos característicos da festa, tornando-se também uma tradição cultural da cidade, que durou até o início da década de 90, quando o êxodo rural se intensificou e a comunidade da Quixaba se esvaziou.

Palhoção do João Pedro de Várzea na festa de 1995. (Arquivo: Otoniel Medeiros)
Na década de 90 a festa ganha impulso no município e continua crescendo passando a ter uma noite realizada na quadra de esportes municipal. As bandas de Forró começaram a marcar presença na festa, tanto na praça pública como no ginásio de esportes, onde geralmente a festa era realizada no sábado. Era a época das saudosas apresentações de Aryaxé e Cebola Ralada quando todos se aconchegavam na praça municipal e as famílias e turistas lotavam o Palhoção do Povo. Neste mesmo período, a festa foi se tornando cada vez mais referência para Várzea e região; os filhos ausentes do município que antes visitavam a cidade em diferentes épocas do ano, passaram a enxergar na festa uma boa oportunidade de unir o útil ao agradável, visitando as suas famílias durante o período da festa.O João Pedro, também se tornava uma importante fonte de renda da população, que via o comercio aquecido antes e durante a festa com a venda de bebidas, comidas típicas, artesanatos, aluguéis de casas, etc.
No início do século XXI, as simplicidades e os conceitos haviam mudado, pelo menos em parte; parecia que o que realmente interessava era a grandeza do evento, que durante este período contou com históricas apresentações de atrações de renome nacional como a banda Mastruz com Leite em 2005, Saia Rodada em 2007, no que é considerada ainda por muitos como uma das melhores noites de João Pedro de todos os tempos, o recorde de público na festa de 2008 alcançados graças a presença das bandas Calypso e Garota Safada até o emblemático show da banda Aviões do Forró em 2012, que foi exclusividade na região.
Com o crescimento e a fama do João Pedro ganhando cada vez mais destaque estadual e até mesmo nacional, serviu de fonte de inspiração para outros municípios, que também optaram por adotar o nome das festividades de João Pedro e comemorar as festas juninas fora de época e para artistas como o cantor e compositor João Jaguaribe, que foi finalista do Forró Fest de 2007 com a música Flor de Várzea composta em homenagem ao João Pedro de Várzea, o que lhe rendeu ainda o prêmio de melhor intérprete daquela edição.
À medida que a festa crescia, a própria infraestrutura da cidade e a organização do evento ficaram sobrecarregados e após 21 anos a praça Joaquim Marinho deixou de ser o foco principal dos momentos de farra e alegria. Em 2007 a festa mudou-se para o parque do Juazeiro, um imponente espaço construído especialmente para a realização  do evento, que, em alguns anos, chegou  a expandir e contou com cinco dias de programação. O Palhoção deu lugar a uma tenda com uma estrutura de som, palco e iluminação moderna e a festa passou a começar mais cedo nas “maravilhosas tardes de João Pedro”, momentos em que se reunia uma multidão em praça pública e também famílias e turistas em pequenas confraternizações espalhadas por toda a cidade.
A festa pode até ter mudado, mantendo um misto de tradições e valores das suas raízes e do seu povo e ao mesmo tempo agregando o que há de novo e moderno, mas uma coisa nunca muda; o sentimento de orgulho que os varzeenses tem por esta festa, tanto que só de se aproximar a época já se sente e se vê nos rostos e expressões das pessoas aquele “clima de João Pedro”, que toma conta de tudo e de todos. Para aqueles que já vieram prestigiar e aos que nunca tiveram a oportunidade de conhecer sigam a letra da canção que fala sobre o João Pedro, composta pelo filho da Terra, o cantor Carlinhos, que inclusive em muitas ocasiões foi atração de noites de João Pedro e que em seus últimos versos já trazia irresistível convite - “ Venha para Várzea que você vai ver que o melhor João Pedro do Mundo espera você”.


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