sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

NAS MARGENS DO VELHO MOICÓ, UM RIO QUE CORRE EM SAUDADES

Foto: Junio Dantas
               Nas margens do velho Moicó, um rio que corre em saudades

 Por: Epitácio Germano 

Sufocado pela degradação imposta por décadas, o leito do velho Moicó pouco respira no que ainda lhe resta de espaço, em contraste do cinza de sua vegetação natural e o amarelo amordaçado e queimado pelo tempo seco. Andar pelas veredas deste afluente, é mergulhar na saudade e cair solto rio abaixo, sem margens para paradas e sombras de descanso, enrolada pelo cobertor genuíno ofertado pelas conhecidas oiticicas. 

Bem antes, o passado em imagens era visto diferente das margens do velho Moicó. O rio desaguava numa caminhada saudável, da Quixaba ao Trapiá...  Campos verdes, alegria solta nos banhos em família e extensas paredes de areias, contornadas pelo desenho natural da correnteza da água. 

Foto: Junio Dantas
Pelas veredas deste tempo, caminhar pelo rio era assistir ao espetáculo dos peixes contrariando a força da água e ainda se deliciar nas mangas e azeitonas, frutas bem comuns dos longos roçados no sítio de Izidro Garcia. Esse percurso era um dos mais tradicionais, mas continuava no pulo da água pela passagem molhada em descida dos grandes cacimbões do sítio de Venâncio, Sebastião Firmo e Mané Bileu, no Trapiá.  

O cheiro da terra molhada, o canto dos pássaros, as pedras que pareciam cachoeiras… O velho Moicó que a geração atual não conhece também já protagonizou noites eufóricas, a maior delas registrada em junho de 1964, quando a água limpou os campos de plantação, transformando-os em vastas vargens… Em março de 1991, a braveza da água foi tanta, que a passagem molhada não conseguiu calçar o percurso e desceu em corrida com o rio. 

Todas essas memórias são lembradas e contadas pelo sábio de muitas histórias, Chico de Mauro, que por vez é também um saudosista de ofício. Do velho Moicó, antes corredor e eufórico, que garantiu o sustento de muitos, restou o vazio da seca e o cansaço adormecido pelo calor,  tornando-se para todos nós que vivemos este tempo ou parte dele, um rio que corre em saudades.

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