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Nas margens do velho Moicó, um rio que corre em saudades
Sufocado pela degradação imposta por décadas, o leito do velho Moicó pouco respira no que ainda lhe resta de espaço, em contraste do cinza de sua vegetação natural e o amarelo amordaçado e queimado pelo tempo seco. Andar pelas veredas deste afluente, é mergulhar na saudade e cair solto rio abaixo, sem margens para paradas e sombras de descanso, enrolada pelo cobertor genuíno ofertado pelas conhecidas oiticicas.
Bem antes, o passado em imagens era visto diferente das margens do velho Moicó. O rio desaguava numa caminhada saudável, da Quixaba ao Trapiá... Campos verdes, alegria solta nos banhos em família e extensas paredes de areias, contornadas pelo desenho natural da correnteza da água.
Foto: Junio Dantas
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O cheiro da terra molhada, o canto dos pássaros, as pedras que pareciam cachoeiras… O velho Moicó que a geração atual não conhece também já protagonizou noites eufóricas, a maior delas registrada em junho de 1964, quando a água limpou os campos de plantação, transformando-os em vastas vargens… Em março de 1991, a braveza da água foi tanta, que a passagem molhada não conseguiu calçar o percurso e desceu em corrida com o rio.
Todas essas memórias são lembradas e contadas pelo sábio de muitas histórias, Chico de Mauro, que por vez é também um saudosista de ofício. Do velho Moicó, antes corredor e eufórico, que garantiu o sustento de muitos, restou o vazio da seca e o cansaço adormecido pelo calor, tornando-se para todos nós que vivemos este tempo ou parte dele, um rio que corre em saudades.
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