segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

PERSONAGENS DA MADRUGADA


Por: Epitácio Germano 

       Ruas tranquilas, praças vazias e no relógio os ponteiros marcam três horas e trinta e seis minutos de uma segunda-feira. Para boa parte das pessoas, a semana ainda não começou, mas a madrugada serena e fria, aos poucos vai perdendo seu sono por mais uma ocasião à chegada dos primeiros raios do sol em anúncio do dia.

       Enquanto a aurora não chega, a sensibilidade ótica da vida noturna apronta uma de suas últimas peripécias em observação aos personagens da madrugada. Notadamente, não é uma tarefa fácil encontrar personagens da madrugada num ambiente onde não há tanto movimento durante a noite.

       Mas, há de se lembrar que o aspecto rural ainda é um traço presente nas pequenas cidades do interior e por se tratar desta identificação, nosso cenário ainda é comum ao de nossos antepassados relacionados às atribuições e os costumes do campo. Assim, a madrugada segue no contar de seus segundos lentos e nos leva a observar do patamar da Igreja, a passagem dos agricultores, passando para os seus sítios, em suas tradicionais bicicletas de modelo Monark (barra circular), fazendo travessia pela Praça Joaquim Marinho e aos poucos deixando as ladrilhadas ruas paralelas ao antigo coreto, a seguir pelo barulho dos pneus sobre os pequenos cascalhos de pedras do solo seco do Rio Moicó. Uma geração que se nomeia a Arnaldo, Chico de Bernadete, Genival Dantas, Gersé de Neco, Toinho de Jovi, Zé de Zé Serafim e tantos outros...

       Nos canteiros e calçadas, os garis cuidam da limpeza e pouco a pouco varrem a madrugada, que já não mais se apresenta tão à vontade em contraste do escuro, as luzes e o amanhecer. É como se tudo que aconteceu terminasse num gole de café servido pela vizinhança, acompanhado de uma rápida conversa sobre as primeiras informações do quarteirão, compartilhadas em muitos desses momentos por Alcides, Mané do Carmo, dona Maura, Rita de Chico Fernandes… 

       O dia ainda não amanheceu por completo e o café embora já esteja no fogo e pronto em algumas casas, ainda nos resta ouvir as conversas baixinhas dos idosos que esperam a padaria abrir, para levar às suas casas, a mistura do dia. Não há como mensurar a quantidade de diálogos e o  tempo compartilhado por essa bancada, no passado com Trovão, Clovis, Justo Florentino e hoje lembrada por Creusni, Chichico Guilhermino e até mesmo Janilton que não perde uma participação na conversa, com seus comentário políticos. É evidente que, nem tudo é como antes, assim como tudo na vida se modifica e naturalmente a história ainda que recontada, não se permite em detalhes, se repetir.

       Ao final, a madrugada se despede com o apagar das luzes e as bicicletas Monarks, assim como os garis e os idosos conversadores, que já não compartilham da mesma visão, neste cenário atual e ao mesmo nostálgico  embrulhado pelo passado.

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