Por: Epitácio Germano
Existem
tempos que são inesquecíveis. Outros que preferimos esquecer. Mas, com toda
certeza nenhum, independente do que se viveu, é mais guardado em nossa memória
do que o tempo de infância. Essa fase é um percurso da vida que cada um volta a
fazer vez ou outra, como se fosse apenas pelo correr sem limites atravessando
as ruas para desafiar os pais. É lembrar daquele barulho intencional provocado
apenas para incomodar a vizinhança e até mesmo deixar inquietos os animais que
descansam pelas calçadas.
Voltar
aos tempos de infância é não deixar adormecido aquele sentimento de alegria e
medo misturado à ansiedade do desenvolver dos primeiros passos. É lembrar do
sorriso causado pela inocência, correndo do medo que jamais existiu. Era assim,
ou pelo menos, na memória da maior parte dos moleques que ficavam sentados na
calçada da esquina de Dona Maura, pensavam.
O
ponto famoso pela sombra da castanhola era estratégico não apenas pela
localização central, mas também pelo gosto das frutas que cada um disputava na
tapa até o horário do almoço. O tempo a que me refiro está marcado no
calendário por meados da década de 90. O encontro da molecada ultrapassava o
tempo e permitia, independente de idades, reunir na mesma sombra mais de duas
gerações. Os maiores eram sempre os personagens principais, os demais, os “café
com leite” alvos das fofocas.
Nessa
época, os carros da cidade eram poucos, a tecnologia então, ao máximo era
compartilhada apenas pelo som de um rádio. Pouco importava pra quem estava na
sombra a existência de alguma televisão, a rua era para todos, naquele momento,
o quintal de casa. Todos crescendo em um mesmo tempo e dividindo um com o outro
as mesmas experiências e desejos. Dos passatempos compartilhados,
esconde-esconde, garrafão, corrida de tampa, doidinho da rua (colocava o amigo
meio e tocava a bola para todos). Esse último só parava quando Zé Neto pegava
na bola. Sua habilidade era tanta que superava a brincadeira e todos acabavam
parando para assistir ele dominar a bola no jogo das embaixadinhas. Havia ainda
a observação do trânsito de veículos na pista. Cada um seguia na ordem e aquele
que tivesse a sorte de pegar o carro mais novo vencia.
Deste
tempo pra hoje, muito se mudou. Os veículos na cidade aumentaram, a tecnologia
virou realidade e geração guardada pela sombra também cresceu. A árvore de
castanhola também não resistiu, mas deixou na memória de cada criança, que ali
ficava, os frutos de suas sementes marcando o tempo. Restam-se hoje apenas as
ruas como corredores vazios, sem gritos e pisadas, sem o som da infância que
alegrava a molecada.
Belas palavras, e muito valioso o resgate do que foi vivido.
ResponderExcluirParabéns amigo!
A infância é mesmo uma época incrível! E olha que a minha já tinha uns aparatos tecnológicos entre as crianças.
ResponderExcluirCompartilho do mesmo pensamento de que hoje as ruas são mais vazias, caladas, frias. Passei pela casa da minha mãe ontem e senti falta das brincadeiras na rua, as conversas nas calçadas, o medo de chegar tarde e o pai reclamar.... Bons tempos.
Parabéns amigo!! Muito emocionante, melhor texto que li aqui nesse espaço tão legal. Não fui da sua epoca mais me senti nela tambem no tempo da minha infancia debaixo dos pés de algaroba da Manoel Dantas
ResponderExcluirBom demais!!! Tempos bons que não voutam mais. Parabens pelo projeto Epitacio.
ResponderExcluirEita que agora bateu saudade. A castanhola de dona maura e inesquesivel!!!
ResponderExcluirEita, Zé Neto jogava demais, o homem pra joga!!!!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluireita que era bom demais!!!
Bom demais. Epitácio é o cara! ter pensado nessa ideia e escrever tão bem. Lembro bem desse tempo, pouco bom!!!
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