segunda-feira, 4 de setembro de 2017

TEMPOS DE INFÂNCIA





Por: Epitácio Germano


Existem tempos que são inesquecíveis. Outros que preferimos esquecer. Mas, com toda certeza nenhum, independente do que se viveu, é mais guardado em nossa memória do que o tempo de infância. Essa fase é um percurso da vida que cada um volta a fazer vez ou outra, como se fosse apenas pelo correr sem limites atravessando as ruas para desafiar os pais. É lembrar daquele barulho intencional provocado apenas para incomodar a vizinhança e até mesmo deixar inquietos os animais que descansam pelas calçadas.
Voltar aos tempos de infância é não deixar adormecido aquele sentimento de alegria e medo misturado à ansiedade do desenvolver dos primeiros passos. É lembrar do sorriso causado pela inocência, correndo do medo que jamais existiu. Era assim, ou pelo menos, na memória da maior parte dos moleques que ficavam sentados na calçada da esquina de Dona Maura, pensavam.
 O ponto famoso pela sombra da castanhola era estratégico não apenas pela localização central, mas também pelo gosto das frutas que cada um disputava na tapa até o horário do almoço. O tempo a que me refiro está marcado no calendário por meados da década de 90. O encontro da molecada ultrapassava o tempo e permitia, independente de idades, reunir na mesma sombra mais de duas gerações. Os maiores eram sempre os personagens principais, os demais, os “café com leite” alvos das fofocas.
 Nessa época, os carros da cidade eram poucos, a tecnologia então, ao máximo era compartilhada apenas pelo som de um rádio. Pouco importava pra quem estava na sombra a existência de alguma televisão, a rua era para todos, naquele momento, o quintal de casa. Todos crescendo em um mesmo tempo e dividindo um com o outro as mesmas experiências e desejos. Dos passatempos compartilhados, esconde-esconde, garrafão, corrida de tampa, doidinho da rua (colocava o amigo meio e tocava a bola para todos). Esse último só parava quando Zé Neto pegava na bola. Sua habilidade era tanta que superava a brincadeira e todos acabavam parando para assistir ele dominar a bola no jogo das embaixadinhas. Havia ainda a observação do trânsito de veículos na pista. Cada um seguia na ordem e aquele que tivesse a sorte de pegar o carro mais novo vencia.
 Deste tempo pra hoje, muito se mudou. Os veículos na cidade aumentaram, a tecnologia virou realidade e geração guardada pela sombra também cresceu. A árvore de castanhola também não resistiu, mas deixou na memória de cada criança, que ali ficava, os frutos de suas sementes marcando o tempo. Restam-se hoje apenas as ruas como corredores vazios, sem gritos e pisadas, sem o som da infância que alegrava a molecada.

8 comentários:

  1. Belas palavras, e muito valioso o resgate do que foi vivido.
    Parabéns amigo!

    ResponderExcluir
  2. A infância é mesmo uma época incrível! E olha que a minha já tinha uns aparatos tecnológicos entre as crianças.
    Compartilho do mesmo pensamento de que hoje as ruas são mais vazias, caladas, frias. Passei pela casa da minha mãe ontem e senti falta das brincadeiras na rua, as conversas nas calçadas, o medo de chegar tarde e o pai reclamar.... Bons tempos.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns amigo!! Muito emocionante, melhor texto que li aqui nesse espaço tão legal. Não fui da sua epoca mais me senti nela tambem no tempo da minha infancia debaixo dos pés de algaroba da Manoel Dantas

    ResponderExcluir
  4. Bom demais!!! Tempos bons que não voutam mais. Parabens pelo projeto Epitacio.

    ResponderExcluir
  5. Eita que agora bateu saudade. A castanhola de dona maura e inesquesivel!!!

    ResponderExcluir
  6. Eita, Zé Neto jogava demais, o homem pra joga!!!!

    ResponderExcluir
  7. kkkkkkkkkkkkkkk
    eita que era bom demais!!!

    ResponderExcluir
  8. Bom demais. Epitácio é o cara! ter pensado nessa ideia e escrever tão bem. Lembro bem desse tempo, pouco bom!!!

    ResponderExcluir