Por Epitácio Germano
Quem morou ou viveu na zona rural
do interior da Paraíba até o final dos anos 90, certamente recorda da
experiência de contemplar o solitário céu pintado de estrelas, e ao longo da
noite, brincar de correr o dedo no fogo de lamparinas sem se queimar. O ambiente
doméstico ainda puramente rústico de casas erguidas com tijolos de barro maciço
feito à mão e a madeira retirada de árvores de pereiro em formato de linha,
adoçavam ainda mais a sensação de que o tempo de nossos avós era tão forte
quanto eles próprios.
Recordar esse ambiente rural, é,
sem dúvida, viajar na história e montar na memória as peças de um quebra-cabeça
que nos condicionava a desfrutar de uma vida mais próxima da natureza. Uma
época de tempo livre e sem a obrigação de tanta velocidade para acompanhar os
ponteiros que correm sobre o relógio.
Mas enquanto a noite não chegava, o sol era o único ponto de luz que
inspirava energia para garantir o desenvolvimento de todas as atividades do
dia. Depois disso, o céu escuro se espalhava como um cobertor de descanso pelo
campo, restando às famílias recolhidas em suas grandes casas de paredes
laranjas, acender os pequenos focos de lamparinas que cheiravam querosene.
Além de lamparinas, outros itens
também eram comuns: como o candeeiro e as "modernas" lâmpadas que ficavam presas em pequenos botijões de gás. O tempo foi passando, e logo se
ouvia falar que a eletricidade seria realidade para o campo. A tecnologia à
época era esperada como a realização de um grande feito de desenvolvimento.
Muitos aguardavam essa condição para comprar eletrodomésticos e outros, de
forma ansiosa, para apostar na tecnologia de máquinas melhor executassem as
atividades agrícolas. Eu vi com meus olhos o céu solitário pintado de estrelas
longe da força da eletricidade, e vi também a chegada da luz elétrica no ano de
1997, quando o último candeeiro foi apagado na Fazenda Juremal, distante cerca
de dois quilômetros do Rio Moicó, principal afluente que corta o município de
Várzea.
Esse momento histórico teve direito
a ritos de chefe de estado, na época representado pelo então governador José
Maranhão (em memória), que compareceu ao município, acompanhado dos deputados
Antônio Ivo (em memória) e Gilvan Freire, além dos correligionários locais, o
ex-prefeito Babá Batista (em memória) e Chiquinho Medeiros. Outros nomes também
dividiram a cena em destaque, a exemplo, da coordenadora do Projeto Cooperar,
Sônia Germano, e a anfitriã da Fazenda Juremal, Isabel de Medeiros Dantas (em
memória), ao lado de sua família.
Dezessete anos depois desse fato, o
então ex-governador por três vezes José Maranhão, concorreu às eleições de 2014
pleiteando o cargo de senador da república e relembrou em seu primeiro guia
eleitoral, o feito da eletrificação rural citando a simples mensagem dita pela
anfitriã da grande festa da Fazenda Juremal.
“Nós fomos inaugurar um projeto de
eletrificação rural e uma senhora de idade disse que, tinha um presente para me
dá: era um candeeiro. E disse: Olha aqui, governador. Eu vou dá esse presente
para o senhor; porque eu não preciso mais de lamparina, minha casa agora tem
luz elétrica”, revelou José Maranhão.
O depoimento de Isabel de Medeiros
Dantas marcou a memória do então governador e depois senador da república,
assim como a chegada da própria eletricidade rural marcou também uma divisão no
tempo para muitas famílias que residiam no campo, e viveram a experiência do
antes e depois da rede elétrica na porta de casa. A celebração da mudança
daquela realidade não era um fato político partidário, mas um fato histórico
resultado de uma boa política pública, que atraiu olhares e contemplou famílias
simples, que estavam à margem e distante da tecnologia elétrica já existente no
ambiente urbano.
Antônio de Dadá, Barro Branco (em
memória); Oscar Ramalho, Poção (em memória); Bastianinha, Trapiá (em memória);
João Eldes, Pedra D’Água; Antônia Cristina, Xique-Xique; Chico de Maria Eliza,
Umburana; Genésio, Pitombeira; Chico de Mauro, Caiçaras; Rosa, do Serrotes Pretos que à época era vereadora; esses foram alguns dos
personagens líderes comunitários da época que representaram a população do
campo, assim como tantos outros nomes que compareceram à Fazenda Juremal
naquele dia.
Hoje, 24 anos depois daquele
festejado dia, o último candeeiro símbolo da evolução do tempo continua
apagado, mas ainda aceso na memória de muitos que viveram as duas realidades.
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