sexta-feira, 15 de outubro de 2021

ANTIGOS CARROS DA RUA ANÍZIO MARINHO

 




Por Epitácio Germano


O crescimento urbano de qualquer município sempre parte de um ponto que costumeiramente as pessoas, que ali habitam, batizam um espaço específico como demarcação para uma referência coletiva: seja o marco zero; uma Rua ou até mesmo algum símbolo representado por uma estrutura predial. Além do indicativo como marco, o lugar naturalmente se consolida como um palco de muitas memórias. 

A Rua Anízio Marinho não é individualmente a pioneira da chegada para os primeiros paralelepípedos que foram sentados no solo, mas está identificada na cidade como sendo a primeira via pública a ligar todo o espaço urbano de norte a sul, levando consigo a memória de um dos maiores fazendeiros e agropecuarista da região. 






    O eixo de ligação norte e sul da Rua indicava os sentidos territoriais do Rio Grande do Norte e Paraíba, e pra quem chegava como novato na cidade, era também uma das referências para acertar o caminho ao Centro ou seguir viagem até a antiga Mina da Quixaba, pegando a antiga estrada de craibeiras de folhas amarelas pelo corredor do Rio de Várzea.




    Os raros veículos estacionados pelo trecho da Anízio Marinho, um corcel amarelo fabricado pela Ford, pertencente a João de Lali, e o encantador Opala Comodoro com cor bege versão esportiva da Chevrolet, de Chico Cleodon, eram pinturas coloridas que quebravam o preto e branco da paisagem formada pelo calçamento de paralelepípedo. A presença dos veículos era admirada, principalmente, pelos estudantes da Escola Estadual Odilon de Figueiredo, que caminhavam diariamente pelo percurso da Rua Anízio Marinho.

 A admiração automotiva era alimentada pelo desejo doce da adolescência de aprender a dirigir e até mesmo em um futuro próspero ser proprietário de um veículo. Além do Corcel e o Opala, que resistiram ao tempo fazendo parte da paisagem até os meados dos anos de 1990, outros veículos foram estacionados na história como parte desse cenário cotidiano: o Jeep de cor azul pertencente a Prefeitura, estacionado defronte a casa do prefeito Babá Batista, ou, a D 10 Chevrolet de cor vermelha, de Pedro Hermógenes parada na sombra de uma castanhola. 

Os antigos carros da Anízio Marinho passavam a maior parte do tempo com os seus motores parados, como se fossem adormecidos, mesmo assim, todos quebravam de alguma forma a realidade local que majoritariamente era apenas movimentada através da força humana empurrada pelos pedais de metal das antigas Monarks.

  

Calçadas paralelas

 

Além de antigos carros, a Rua Anízio Marinho sempre teve espaço para a criançada que brincava de esconde-esconde, doidinho da bola, matada e rodas de conversas, muitas delas sob a sombra do pé de castanhola, na esquina da casa de Dona Maura. As calçadas paralelas também reuniam famílias e amigos e, em tempos de política ou desfile cívico, serviam de arquibancadas.

Toda Rua tem sua alma encantadora, e em todos os casos, independente do tempo e do próprio crescimento urbano, nenhuma existe sem histórias. Os antigos carros não estão mais estacionados, todos deram partida e seguiram sua viagem, mas o percurso de todo esse tempo continua presente a mesma paisagem e pode ser constatado tanto pelo imaginário popular, quanto fisicamente sobre as mesmas pedras que um dia ladrilharam o início do desenvolvimento e chegada dos antigos carros.

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