Por Epitácio Germano
O
trecho da Rua Afonso Cândido, mais precisamente localizado ao longo da Praça
Joaquim Marinho, e com extensão predial de esquina à casa amarela de
arquitetura antiga e com pentágonos de cor vermelha, pertencente a João Balbina
, concentrou a partir do início dos anos de 1950 o principal e mais tradicional
billiards varzeense.
O
prédio com estrutura quadrada, paredes brancas pintadas com cal e três portas
de entrada de madeira tinha um espaço reservado com uma mesa de sinuca e,
outro, dividido em sua estrutura com uma mesa para jogo baralho e, mais ao
fundo, uma murada e um banheiro reservado aos frequentadores. Em alguns
momentos também se registraram grandes partidas de bozó, prática secular que envolve o
jogo de dados.
O
ambiente de desenho simples era atrativo aos jogadores, que costumavam chegar e
aproveitar o expediente de lazer para também degustar de uma lapada de cachaça
como aperitivo, antes do início das disputas. O surgimento do billiards
quebrava naquele período da história, o segmento econômico local do comércio
formado apenas pelas tradicionais bodegas. E, assim, como qualquer outro espaço
de jogo popular, a sinuca como ficou batizada, era também frequentada pelos
curiosos que se mantinham reservados ao receio conservador de evitar o jogo
pelo vício, no entanto, mantendo-se sempre ativos a cada detalhe das partidas,
e até mesmo, arriscando palpites e causando estresse para quem estava na mesa
de jogo e tentava se concentrar na criação de estratégias.
O
prédio onde se consolidou a tradicional sinuca, no coração da cidade, se mantém
até os dias atuais, porém não foi neste espaço onde toda essa história que
envolve a atração pelo jogo com a utilização de bolas e tacos começou. A origem
do billiards nasceu na Rua Manoel Dantas e bem antes dos anos 50, quando Dario
lançou na cidade o primeiro espaço com uma mesa de sinuca comercial. De
estrutura mais antiga, o local funcionava em um prédio projetado como
residência, mas que ao longo do tempo, além do billiards se caracterizou como
prédio de negócios, abrigando com o passar dos anos o funcionamento de bar,
loja de artigos, e logo após o início dos anos 2000 se fixando pela marca do
Mercardinho São Jorge, que segue ativo no comércio local até os dias atuais.
Bola
quatro e uma mordida de raiva
No
billiards do centro da cidade, uma das partidas que ficou marcada na lembrança dos assíduos jogadores foi protagonizada por Zé Tobias, cidadão potiguar da
cidade de Ouro Branco, que costumava visitar o local como alternativa de lazer.
Irritado por não conseguir encaçapar a bola de número quatro e vencer o jogo
para encerrar a partida, Zé Tobias arremessou com força o taco sobre a mesa e agarrou com
suas mãos a bola devolvendo com uma mordida toda a sua euforia, o fato de a
mesma não correr ao destino que garantiria sua vitória. Daí em diante, quem
ficava no jogo pela bola número quatro, sofria por ser enquadrado na sina
Zé Tobias. O dilema então era: se o jogo
terminaria com a bola número quatro sendo símbolo de consagração de uma vitória
ou mordida.
A patota
que fez o mudo falar
O
jogo de baralho também era parte ambiente da sinuca dividindo o mesmo espaço, e
uma das partidas mais cômicas registradas, aconteceu em uma rodada com João
Balbina, Cazuza, Zé Grandão e um indivíduo que se apresentou como mudo, e em
silêncio, tentou derrotar na mesa àqueles que além da experiência, eram comuns
ao ambiente. O mudo jogou três dias seguidos e não conseguiu emplacar um bom
desempenho frente aos concorrentes. Indignado, expressava inquietude em alguns
movimentos sobre a mesa, e no terceiro e último dia, perdeu a paciência,
levantou-se e reclamou falando que não aguentava mais perder. A história com
isso tornou-se uma patota, sendo a sinuca o único lugar da cidade que fez
alguém mudo falar.
Fora das mesas, a sinuca também deixou bordões populares que vem desde o tempo de ouro, época de grande exploração da Mina da Quixaba, até o momento da emancipação e independência política do antigo Distrito de Sabugirana, como sendo: o lugar onde a notícia chega primeiro, ou onde o assunto de política termina em jogo e apostas. O espaço que todo adolescente nascido e criado em Várzea sonhava de entrar ao completar a maior idade, apenas pelo simples fato de matar a curiosidade, e entender o porquê de tantas pessoas se concentrarem ali.
Eternas memórias da política local
Por pertencer a João Balbina, personagem tradicional da política local, o prédio da sinuca também foi palco de festanças políticas, com direito a banquete para os eleitores e danças. Ao vencer pela primeira vez a disputa para o cargo de chefe do poder executivo nas eleições de 1965, João Balbina suspendeu os jogos de sinuca e baralho e transformou o espaço em um salão de danças para festejar a vitória junto aos seus correligionários e eleitores.
Nesse
mesmo ano, ainda durante o período eleitoral, a sinuca se transformou por
vários momentos em pontos de
concentração dos eleitores do partido da antiga Arena - que costumavam
aproveitar os grandes caldeirões com carnes, farofa, feijão e arroz que eram
ofertados. Quem detinha de afinidade a João Balbina não perdia uma
concentração, enquanto que do outro lado da esquina, poucos metros a extensão
do Coreto Municipal, Mario Primo de Araújo, político oposto a Arena também
protagonizou aos seus eleitores uma recepção de banquetes na antiga casa da
Quixaba.
Quem não se lembra do finado Netinho Santiago , que quando Perdia uma partida praticamente ganha , ele passava o taco por debaixo da mesa. Kkkkkk
ResponderExcluirQuem não se lembra das lendárias tirinhas.
ResponderExcluirUma certa noite eu fui jogar com o finado Zé careca e assistido por papai ( Chico papi ) im memória. Eu dava duas bolas pra ele e acabou o jogo ele me devendo 65 reais. Dois grandes homens falados aqui.
ResponderExcluir